quarta-feira, março 17, 2010

Clear sky spotting




Pareceu interminável praga, o mais longo inverno de que há memoria. O mais cinzento, sombrio e chuvoso inverno das últimas décadas. Qual castigo decretado por uma qualquer entidade divina, querendo acompanhar as idiossincrasias despoletadas em mim pelos eventos que coincidiram com o inicio desta estação... nem a propósito.

Como se não houvesse volta a dar (e será que há?) o céu vestiu-se de luto e decidiu-se a despejar, durante meses a fio, uma enxurrada de lágrimas facilmente confundidas com chuva. O próprio planeta quis acompanhar a angústia e estremeceu, vezes sem conta tal como eu, de cada vez que a minha memória te trazia de volta, por breves segundos… e todo eu estremeço. E todo um vendaval de emoções me extravasa, me revolta, em sucessivas derrocadas que me esgotam as forças… e a exaustão da luta quase me faz desistir.

E é nestes pequenos momentos, em que penso que nunca te voltarei a ver, que tenho de dizer a mim mesmo que já passou o inverno. Nessa altura pego no caos despedaçado que é este reles fraco coração e sento-me pacientemente à espera. Na esperança que a chuva pare e que o cinzento desvaneça. Na ânsia do sol ainda brilhar.

E - de sorriso plantado na face e renascida esperança semeada no peito - no perfeito azul do céu limpo escreverei teu nome em letras de algodão-doce, para me lembrar que o inverno não tem de durar para sempre.






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