segunda-feira, março 27, 2006

Retratos de mesquinhez assolapada


Há dias para esquecer... em que a vontade de fazer bem é dizimada pela eterna habilidade engenhosa de meter a pata na poça. Acaba-se sempre por, mais tarde ou mais cedo, fazer uma asneira tamanha, que a nossa própria existência parece fadada a impedir o sono de se aventurar, nas noites que nos restam.
Deparamo-nos então com a visão aterradora da nossa incapadidade para originar um sorriso na altura certa, ou um brilho minimo de felicidade no olhar de quem precisa, que nos faça a nós perceber que, por uma vez na vida, somos úteis, que servimos para alguma coisa.
Que egoísmo. Pensar nessa nossa própria incapacidade, quando se tem perante nós um outro ser, bem mais necessitado de compreensão, de alento... de um ombro amigo, mesmo que a grande distância. No entanto decidimos ser inferiores, e pensar em como somos incapazes de trazer um sorriso a essa face, sem ter sequer a certeza se o que se procura é a alegria dessa outra pessoa, ou simplesmente ver aquele sorriso que tanta alegria nos dá a nós próprios, quiçá para nos deixarmos enganar e ficar a pensar que já estará tudo bem. No entanto, não se consegue nem uma coisa nem outra.
E esse sentimento de impotência intelectual devasta-nos e esmaga-nos de tal forma, que a única vontade é escondermo-nos do resto do mundo.

E esses dias para esquecer não deviam ser esquecidos, deviam sim ser lembrados para sempre, para não se voltar a cair nos mesmos erros, para não voltar a dizer as mesmas tolices... para não voltar a tomar as decisões erradas... uma e outra vez.

A constipação que parece querer tomar conta de mim já vem com dois dias de atraso... tinha-a previsto para o fim de semana... Domingo, para ser mais preciso.
Enfim, há dias para esquecer... e amanhã é outro dia.

Se fixarmos o olhar muito longe no horizonte, não conseguimos ver o arame farpado que nos prende ao nosso ser.






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