Grades invisiveis
Passou mais uma noite vencido pela solidão, consumido pela irresistivel inevitabilidade do vazio, que raramente conseguia evitar. Os mesmos gestos sem resposta. O mesmo silêncio que consome qualquer som que se possa gerar em seu redor. As mesmas faces, conhecidas ou não, que conseguem esconder tristezas ou que talvez nem precisem... nem toda a gente vive condenada a essa praga. A tristeza, essa muitas vezes encontra-se nos olhos de quem vê, não de quem se deixa ver. Mas também o receio de se deixar vencer pela solidão por vezes obriga a tentar disfarçar feições de angustia... de proximidade do abismo.
Recorre-se uma e outra vez ao esconderijo de um qualquer recanto escuro, que sirva de abrigo, longe de encontrões e repelões indesejados. Sempre os eternos desencontros de olhares e de toques ansiados toda uma vida, e deixa-se ser levado... perante a constante ausencia de atenção ou sinal de interesse, de carinho... que acabam por levar à desistencia por falta de forças, fisicas e mentais.
Os gestos repetem-se... ainda e sempre sem resposta.
O olhar - indeciso entre revelar o desespero contido ou o ardente desejo eternamente camuflado de quem acha que o momento é o certo - hesita e esconde-se, traiçoeiro, timido e cobarde, defraudando as espectativas por achar-se uma e outra vez enganado.
...sempre os mesmos gestos... sempre a mesma ausencia de resposta ou reacção... sempre os mesmos erros, e a solidão acaba por vencer mais uma vez, indiferente a quem passa perto ou quem se deixa ficar uns instantes.
(Nelson Gonçalves, 7/9/2005)
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