terça-feira, janeiro 17, 2006

Mostraram-me a realidade
...por muito que custe admitir


Sogima tinha um dom especial que mais ninguem tinha. Sogima conseguia ver para além das caras e feições. Conseguia ver a alegria ou a tristeza que se escondia por de trás de cada olhar, das pessoas com quem se cruzava. E compreedia, num instante a razão de tal sentimento.
E sempre que podia, Sogima tentava ajudar quem estava triste, ou acompanhar a alegria de quem estava alegre.
Uma vez Sogima cruzou-se comigo. Bastou uma fracção de segundo até perceber o que me ia na alma, o que me corroía por dentro. Conversámos durante um bom bocado. Sogima percebia o que eu sentia e mostrou-me que era uma coisa que, apesar de não se poder escolher, também não se podia forçar. Eu sabia isso, e apesar tentar não o fazer, o certo é que inconscientemente era mesmo isso que estava a acontecer, ensombrando invariavelmente o que me rodeava.



Em tempos, na altura em que o Homem desbravava novas terras, numa longinqua ilha paradisiaca, encontraram um passaro com umas cores tão lindas e um cantar tão deslumbrante que nenhum ser vivo conseguia ficar indiferente. Era um passaro especial, raro que tocava a todos de uma forma inigualavel. Era uma experiencia unica no mundo, poder estar na presença daquele ser. Um privilégio poder estar perante aquela criatura que tinha o poder de fazer qualquer um sentir-se abençoado por algo divino.
O homem, não conseguindo escapar à sua condição humana, apaixonou-se de tal forma por aquela beleza, que não podia descansar enquanto não a tivesse só para si. Capturou-o e tentou confiná-la a uma gaiola.
Porém o que esse passaro tinha de belo, também tinha de amor pela liberdade e ao encontrar-se preso foi perdendo as suas cores e deixou de cantar, até se desvanecer sem forças.
O homem, de tanto querer forçar o amor que tinha pela beleza desse passaro, acabou por perde-lo para sempre.


Há coisas que não estão destinadas, que não as podemos ter só para nós próprios, e por muito que custe, temos de continuar a amar à distancia, só com o olhar, sem poder exigir mais que apenas a possibilidade de admirar... e acima de tudo, seguir em frente, caso esse passaro estenda as suas asas e decida voar para outras paragens... e o melhor a fazer é não esperar que essas asas tragam esse passaro para a nossa vida. Por muito que custe.

Sogima, se fosse árabe lia-se da direita para a esquerda.

Estou sem asas, não sei como voar, nunca soube...
...voa tu, que não te tento prender mais.






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