terça-feira, agosto 26, 2008

Os caminhos turtuosos da ausencia de assunto


Pode-se dizer que Rosivaldo Felismino era uma criança feliz, muito introvertida, bastante sossegada que não dava trabalho nenhum e raramente se dava por ele. Mas tinha um grande problema: era hiper-nervoso.

E esse pequeno problema acentuava-se cada vez que tentava aproximar-se de uma rapariga por quem sentisse um carinho especial (ou por quem estivesse simplesmente embasbacado). Rosivaldo não sabia explicar, nem fazia ideia o que se passava com ele nessas alturas. Mas de um momento para o outro começava a ter suores frios, as mãos e os joelhos tremiam como varas verdes no meio de uma tempestade tropical de grau elevado, a pele empalidecia, Rosivaldo parecia que se aprestava para desfalecer a qualquer momento e o estômago começava às voltas ao ponto de lhe dar náuseas.

Francelina Orlandina era a razão das suas acelerações cardíacas e bruscas travagens digestivas, e ela já se tinha dado conta de algo estranho naquele rapaz que tanto olhava para ela, ora com um sorriso tímido ora com cara de agonia.

Um dia, já algo farta daquele mirone que a começava a dar nervos também a ela (mas outro tipo de nervos), chegou-se perto dele e perguntou-lhe se havia algum problema.

O pobre coitado já não bastava tremer das mãos e dos joelhos, começava agora também a tremer dos sobrolhos, da testa, do queixo... todo ele tremia. Mas naquele momento de verdade, onde os homens se fazem Homens e os restantes se fazem miseráveis ratos para o resto da vida, Rosivaldo encheu-se de coragem e num momento brilhante daqueles em que tudo à volta se apaga e apenas se acende um foco de luz sobre eles os dois, Rosivaldo abre o coração, entrega o peito às balas e exclama alto e em bom som, com um sorriso estampado na face:


- Dás-me vómitos.






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