Metade real, metade ficção?
ou será vice-versa?
Contar os micro-segundos que vão passando. É isso que faço da minha vida.
O tempo vai passando sem que eu lhe faça alguma coisa de jeito e quando dou por mim estou cada vez mais velho. Cada vez mais ridiculo, apesar das ideias serem apenas as de alguem mais velho do que na realidade sou. Cada vez mais encalhado num recife que não conhece marés-cheias para me desencalhar.
E quando me olho ao espelho e vejo uma ruga acentuar-se um pouco mais ou um cabelo a ficar mais branco, a minha mente deixa-se assaltar ainda mais pela estupidez habitual que reside em mim. E a solidão parece tomar dimensões ainda maiores do que aquelas que já conhecia.
Apenas visitei uma pequena fracção da Terra e tudo se encaminha para que assim continue, sem que eu possa fazer grande coisa para que seja de forma diferente. Chego ao fim de um dia, qualquer que seja ele, e olho para o que fiz durante esse tempo em que estive acordado. O resultado resume-se a um redondo, monumental e gigantesco zero. Um punhado de nada, que cabe no vazio de um eco silencioso. Não faço nada por mim nem por nós.
Hoje doei dez euros para uma intituição de caridade. Curioso como nunca o tinha feito e este é, provavelmente, o ano em que me encontraria em pior situação para o fazer. No entanto, ainda dou por mim a pensar se o fiz como deve de ser, se não terei sido apenas aldrabado. Enfim, alguem há de ter um uso a dar àqueles dez euros, para o bem ou para o mal. Resta esperar que seja para o bem, apesar de nunca o vir a saber.
Já a semana passada, entrei numa padaria com alguma fome. Tinha algum dinheiro a mais e comprei dois pães com chouriço. Não que eu tivesse tanta fome assim. Dei voltas e mais voltas, mesmo sabendo que algumas dessas voltas me distanciavam do meu carro. Procurava algum dos dois sem-abrigo que vi na noite anterior e que em nada tentei ajudar, na altura, apesar do frio de rachar que já se fazia sentir. Estava decidido que se encontrasse um deles dar-lhe-ia um dos pães. Se encontrasse os dois, dividiria o que tinha por eles. Curioso como nessa noite em que me passou pela cabeça fazer o minimo que estava ao meu alcance, não os tenha encontrado.
Pergunto-me se estes dois episódios não serão apenas uma demanda por uma eventual redenção, coisa que na realidade nem acredito.
Enfim... acho que estou a ficar velho e ainda mais parvo. E sem encontrar porto de abrigo onde ancorar os meus devaneios e ideias estupidas.
Aqui estou, preso a mim mesmo... à deriva e lentamente a naufragar...
Não sei porquê, os primeiros dias das semanas parecem sempre mais longos e mais dificeis de passar.
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