Sentado à beira de um rio revoltoso onde me deixo naufragar
Secaste-me por dentro, quando me levaste as ultimas ventanias frias de um Inverno que nunca quis, nem nunca desejei. Os bancos de jardim onde adormecia, ao relento enquanto esperava por ti, sussurravam-me ao ouvido os gemidos de dor que alastravam pelas arvores e saíam a voar por entre as folhas que caíam uma vez mais, apesar de uma estação de atraso – no ano seguinte voltariam a cair uma outra vez atrasadas, se não ardessem na fogueira das vaidades de um qualquer Verão perdido no tempo.
Levaste-me as ultimas ventanias frias... as que me davam o arrepio na pele, de alto a baixo desta minha alma de delinquente frustrado de corações. No entanto ainda estou em divida contigo. Devo-te as chuvas que recusei a verter neste Inverno. Não as chorei, apesar de todas as nuvens negras que juntei durante a minha luta desesperada e inglória por vencer-te... não, vencer-te, não. Mas ganhar-te, conquistar-te a ti e tudo o que significarias para mim, no caso de ter entrado nessa guerra contra mim próprio.
A luz acaba por se apagar, eventualmente, sem que eu faça alguma coisa por isso.
Lá fora, num outro Universo paralelo, a Primavera tenta mostrar um novo sorriso e pintar uma nova tela com cores mais vivas. Roubaste-me as ultimas ventanias frias de Inverno, mas não me trouxeste as brisas amenas da Primavera e deixaste-me no limbo das incertezas que se querem esquecidas.
Um dia o Verão há de chegar, eu sei... mesmo que não volte a existir qualquer Primavera. E trará consigo as brisas quentes de que te falei e de que te sonhei, as brisas quentes de que sinto falta. E nessa altura nem tu nem ninguem me conseguirá sonegá-las. Saberei que não me desviei dos meus propósitos e chegará o dia em que gritarei bem alto “Sobrevivi! Ainda estou vivo!”... só para que ninguém me oiça.
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