quarta-feira, setembro 03, 2008

Teorização sobre a problemática dos bancos cor-de-laranja nos transportes públicos, suas implicações e consequencias de um eventual alastramento a outros niveis da sociedade contemporanea

Fim de tarde de um qualquer tórrido domingo de Verão.
As ruas vazias fazem pensar que se trata de uma cidade fantasma, pulsando uma calma impossível de igualar durante um dia de semana. Já as famílias regressaram quase todas do típico passeio dominical, tenha ele sido à praia, ao centro comercial da moda ou simplesmente a vaguear de carro pelas estradas a uma velocidade que se assemelha com a de uma “charrette”.
De uma velha casa térrea, com a pintura de cal a cair aos bocados, ouve-se o ranger de uma porta já gasta a abrir-se, também ela com a pintura estragada. Por ela sai uma mulher, meio anafada, cabelo encaracolado desarrumado, saia mal apertada e uma velha blusa de alças esbranquiçada. Anda cerca de 50 metros e ouve-se a mesma porta a ranger novamente, enquanto se abre.


Um homem de meia-idade, cabelo grisalho a rodear as entradas de uma ligeira falta de cabelo, vem assomar-se à porta com o seu robe em xadrez príncipe de Gales de tom bordeaux, pantufa creme e fio de ouro em volta do pescoço. E solta um grito estridente que ecoa por todo o bairro:
- OH ESTÚPIDA!!!!

A reacção dela é imediata e ainda nem se tinha virado completamente e já a resposta viajava de volta, com o mesmo nível de decibéis:
- QUE QUERES, PARVALHÃO?
- Esqueceste-te da carteira, minha rameira!, respondeu o homem, agora já num tom mais baixo, reparando que ela o ouvia perfeitamente.

Ela volta atrás, recebe a carteira das mãos dele e dão um prolongado beijo.
- Não te esqueças da hora do jantar!, diz ele a fitá-la nos olhos e com um sorriso matreiro.

E ela arranca sem mais, para lhe procurar cigarros e as cervejas da marca que ele tanto gosta.
Enquanto isso, ele fica em casa a preparar o prato preferida dela para o jantar.




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