Dados viciados
Vícios
Poucos entenderão porque escolhi,
nos últimos segundos que me sobram,
dizer que tenho mais um vício.
Um vício encorpado em ti,
com teu nome enfeitado a rosas
encarnadas de paixão inconsequente.
Todas as semanas faço-me nascer,
ergo-me num novo ciclo,
em que me renovo,
em que me encho de força
e sinto que nada me pode deitar abaixo,
porque a minha força de vontade
vai prevalecer e nada me atinge.
Como se coisa alguma neste mundo
me pudesse ferir ou mesmo atingir.
Fossem gigantes, monstros ou sereias,
a minha hercúlea batalha seria vencida
- não pela cega e incerta força bruta,
mas pelo poder que tenho sobre mim,
que a minha força de vontade me dá.
Depois…
depois tu passas demasiado perto,
teus passos trilham desejos em mim,
teu cheiro invade o meu corpo,
teu olhar queima-me por dentro,
tua voz distante mata-me...
mata-me só um pouco mais e outra vez...
e eu, pobre indefeso ser, desmorono…
como um frágil castelo de cartas
que na realidade nunca deixei de ser.
E todo o tempo que demora
o resto da semana a passar
é apenas um lento e sôfrego corpo
que se arrasta moribundo,
com o crescente definhar
dos restos de uma força de vontade
que nunca foi mais que efémera miragem.
E mais não sou que um mero escravo
condenado aos caprichos
deste vício em mim que és tu.
................Nelson Gonçalves (27/2/2009)
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