sexta-feira, setembro 08, 2006

A quem há de vir


Há alturas em que a minha vontade era encher o peito de ar, juntar a energia de todos os recantos do meu corpo e gritar. Soltar o mais sonóro e estridente
AAAAAAAAAHHHHHHHHH
da história do Universo. Um grito tão alto e poderoso que, além de ensurdecer, também emudecesse tudo o que existe neste planeta.
Ninguém conseguiria falar.
Não haveria mais conversas tontas entre pessoas, nem cantares de pássaros, nem sons de outro animal qualquer à face da Terra. A água deixaria de soltar o seu característico e cristalino som a correr nos rios, ribeiras e riachos, ou mesmo nas quedas d’àgua. As próprias ondas do mar deixariam de se ouvir, ou as folhas das arvores bafejadas pela brisa.
Não haveria barulho de carros, portas, portões, aviões... explosões. Uma civilização surda e completamente silenciada sem alarmes, chamamentos, insultos verbais. Sem declarações de coração aberto em palavras ditas entre tremores de medo. Sem baladas ou serenatas ao luar.
Até a raiva da natureza sería silenciada, passando as chuvas dilúvianas, os trovões, trovoadas, as derrocadas, avalanches e os vulcões a serem apenas acontecimentos notados pelos olhos. E as fortes ventanias deixariam de assobiar entre as casas e passariam ignoradas pelas pessoas que se recusam a sair à rua.
Nem os sons desconhecidos, aqueles que não sabemos de onde vêm nem o que os produz, e que invariavelmente são pão para a mente enquanto imaginamos o que serão e que ser os terá emitido. Nem esses seriam audíveis.
Silêncio total... a magnífica linguagem das estátuas.

E o fim do mundo passaria mais despercebido, porque o silêncio total já existia e o acontecimento seria resumido a um apagar da ultima réstea de luz no mundo, como quem apaga o candeeiro da mesa de cabeceira, ao deitar.


Até quebrarmos o silêncio que nos tem dividido...
...nem que seja apenas com o sorriso ou o olhar.






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