terça-feira, outubro 14, 2008

Oasis do fim do mundo


Velho barracão, inóspito… inabitável. As indeléveis marcas do tempo deixam transparecer o abandono a que foi votado… a madeira podre e carcomida pela fauna que outrora o habitara. As rugas inerentes a uma madeira gasta, velha que luta contra o passar do tempo, de forma irredutível, mas ao mesmo tempo inglória.
Em tempos passados rodeado de verdejantes bosques e prados, agora apenas um imenso deserto, um vasto terreno a perder de vista, praticamente sem qualquer sinal de vida, se exceptuarem-se os escassos cactos onde poisam os abutres de circunstancia, nas suas viagens em busca de outros seres defuntos, ou um ou outro arbustos que se apresta para ir embora. Um silêncio, uma quietude que chega a assustar, apenas quebrada de tempos a tempos por tempestades de areia, que mais não fazem que aumentar o grau de degradação a que o velho barracão está entregue há já bastante tempo.
Os dias, quentes e sufocantes ao ponto de tornarem quase impossível a respiração, contrapõem-se com noites geladas que fazem desesperar por um pouco de calor… o calor intenso do dia, que tantas vezes se amaldiçoa, à luz de um sol que queima. Uma tão grande amplitude de sentimentos em tão curto espaço de tempo, que pouca margem de manobra deixa para se combater a insanidade que procura irromper.
Mas casa assombrada, nunca! Não, por favor…
Por vezes, numa gota do oceano de segundos que duram uma eternidade, aparece ao fundo uma caravana. Muitas outras gotas de tempo têm de passar, para se ter a certeza se se trata de uma visão – apenas mais uma obra da insanidade que se alastra – ou se será mesmo realidade.
As caravanas que não são mais que visões apenas têm o condão de aumentar a raiva e a força com que se luta para a insanidade não vencer. Mas essa força desvanece-se rapidamente, assoberbada pelo silêncio intenso.
As caravanas reais, essas normalmente param por uns instantes, para se abrigarem um pouco do sol que teima em castigá-las, ou mesmo para se porem a salvo de alguma tempestade de areia que se aproxime.
É a essas caravanas - as reais, as que se deixam ficar por instantes - que inconscientemente se rouba um pouco de ilusão e enormes quantidades de esperança… na ânsia de voltar a haver vida nessas paragens, na ânsia de voltarem a florescer os prados que em tempos habitavam a vizinhança…

… na ânsia de ser oásis do fim do mundo.




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