As contas dos sonhos
Revolto-me hoje contra os sonhos, tal como sempre fiz, quando desperto. Não me revolto contra os sonhos em si, mas sim contra o seu preço, o preço que todos nós pagamos ao sonhar. Invariavelmente esse preço é sempre demasiado elevado, por vezes exurbitante, até. “Mas os sonhos são de graça”, poderão dizer vocês. Eu digo que não são, digo mesmo que são extremamente caros. O preço que se paga é passar tempos indeterminados a ser assombrado pelos sonhos. Passar dias e dias a remoer o sonho que não se pode alcançar, que não se pode reviver, nem mesmo em sonhos.
Neste caso os pesadelos acabam por ser o “mais baratos”, por manterem-se na nossa mente por muito menos tempos, e ainda assim, atormentarem-nos muito menos que os sonhos bons, aqueles que nos perseguem, que queremos tornar realidade, mas não conseguimos.
Malditos sonhos inalcançáveis e o seu exorbitante preço... sonhar com a colina do topo do mundo que nunca se subirá... a paisagem perfeita que nunca terá a companhia desejada... o toque suave de dois corpos que nunca se descobrirão... o beijo que ficará para sempre por dar... o amor que nunca poderá existir... condeno-os a todos por quererem resistir à custa de uma pseudo-lei de mercado.
Renuncio aos sonhos, recuso-me a continuar a pagar o seu preço!
...na terra dos sonhos, ninguem me leva a mal.
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