Os dias passam dias a passar
Tenho-me lembrado de ti, ultimamente. Pensava que te teria esquecido, mas nos últimos tempos parece que tudo me faz pensar em ti.
Não sei se por ser esta altura do ano… a lembrar esta altura de outros anos… talvez. As “festividades” e o ambiente alegre em que toda a gente parece viver faz-me lembrar como as coisas eram em tempos… como as coisas chegaram a ser, por uns tempos.
Mas talvez não seja só isso. Parece que é tudo, tudo o que se tem passado parece trazer-me de volta momentos que foram nossos…
Corrijo: momentos que, afinal, talvez tenham sido apenas meus. Mas momentos em que tudo parecia tão perfeito… sei que soa a ingenuidade mas, nessas alturas, cheguei mesmo a pensar que poderiam ser reais essas idiossincrasias a que chamam de almas gémeas, casais perfeitos, seres que se complementam…
Há de haver quem diga que devia esquecer, que não devia viver preso ao passado. Provavelmente terão razão, mas a perfeita ilusão de uma utópica harmonia que se criou – e que na realidade não terá passado disso mesmo, uma utopia – ganhou raízes demasiado profundas e prendeu-se a mim como se necessitasse do meu presente para sobreviver, reavivando o passado. E como tudo fazia sentido, na altura.
E agora… agora vejo-me num filme que não parece o meu. Não quero que as coisas tomem o caminho que estão a tomar… porque sei o que se avizinha. E não penses que é presunção, porque não o digo de ânimo leve. Sei o que se avizinha, porque toda a minha existência foi passada no outro lado da barricada. E não é bom - o outro lado da barricada - quando deste lado está alguém que não tem bem a certeza de como se comportar numa situação destas, de forma a evitar danos maiores… ainda por cima, com o pensamento em ti…
E como é que se diz uma coisa dessas a outro alguém…?
O coração não escolhe… nem eu te escolhi a ti, apenas calhou.
E não te preocupes, bem sei que o coração não escolhe… tu também não me escolheste, apenas porque não calhou…