terça-feira, novembro 28, 2006

Foi voce que pediu...?

Bem, a minha amiga Tânia pediu-me para escrever um texto sobre ela. Provavelmente não me vai voltar a falar depois disto, mas paciencia, temos de viver com as consequencias dos nossos actos (esta era a brincar). Se calhar o texto até nem tem muito a ver com a realidade, mas enfim... cá vai disto.


Parece que a grande maioria das pessoas tem a "mania" de não se valorizar o suficiente, ou pelo menos o quanto deviam, tendo em conta as evidencias, e preferem inconscientemente apresentar-se como menos do que realmente são. À primeira vista podia pensar-se isso de ti, mas não se poderia estar mais enganado, porque não o fazes com essa intenção. Vim a perceber isso há pouco tempo, mais nas ultimas semanas.
Quando mal te conhecia tinhas a tua aura envolta num manto de defesas intransponiveis, podia até chegar-se a confundir com alguma dureza, um ser rude e inatingivel onde, invariavelmente, pouca gente conseguia ganhar acesso a passar para o lado de dentro das tuas defesas.
Quando te dás a conhecer tudo muda de figura. A força que demonstras por um lado é o reverso da medalha de uma fragilidade que poucas pessoas conseguem entender ou aperceber-se que existe. E no entanto a insegurança, a duvida percorre-te como ao comum dos mortais, umas vezes mais, outras vezes menos, ligadas à corrente por paixões vividas e sentidas como se o mundo estivesse para acabar.

Por vezes, sem dizeres nada, pareces pedir-me o impossivel, mesmo para um reles amigo, como eu sou. Não porque possas pedir demais, mas porque não sei como reagir ou como estar à altura da situação. Acontece assim, quanto te vejo triste e não sei como te possa ajudar a derrotar os demónios que te atormentam de tempos a tempos.
Nem chego a saber como o fazes.
Ao sol vais buscar a energia que se deixa transportar nos seus raios para irem de encontro a ti, mas alimentas-te da lua como se fosse o fruto material que acaba com todas as fomes. A ela contas os teus segredos e anseios, fazes dela irmã e mãe, conselheira e confidente. Ouves os seus conselhos com o coração nas mãos, e bebes na sua milenar existencia os ensinamentos que afinal de contas estão dentro de ti e em mais nenhum lugar. Juntas em ti as forças de todos os elementos: a eterna descoberta dos pés na terra, mantendo o sonho a voar pelo ar, a frescura da água com que lavas o corpo e a alma e a fogosidade impetuosa do fogo que manténs a aquecer-te a chama da paixão; e guardas tudo num lindo embrulho enfeitado com um sorriso de criança traquina e um olhar que transporta sentimentos e desejos e sonhos sonhados, pronta a oferecê-los a quem o mereça.

Quer queiras, quer não, a tua silhueta leva ao desejo lascivo de muito homem, porque foste agraciada com formas e curvas e feições que preenchem muitos sonhos desses seres que, por norma, procuram mais a aparencia que os sentimentos, sem pensar que por trás dessas curvas insinuantes está uma mulher com ideias e ideais fortes, de caracter e sempre pronta a defende-los, quase como quem defende a própria vida. De quem é afortunada (ou condenada) por saber que o belo não tem obrigatoriamente de se sentir com os olhos, mas acima de tudo com o coração, com um abraço que seja, mas com um corpo inteiro. Curiosamente, é isso mesmo que a maioria dos seres humanos não estão dispostos ou preparados para tentar descobrir, o belo para lá da aparencia. E quando se juntam as duas coisas, raramente se procura para lá do que os olhos deixam ver. É a isso que acho que estás condenada, a juntar essas duas coisas numa só pessoa, em ti.
Ama sem deixar de temer, mas ciente que um dia serás recompensada por não desistir do amor.
Vive sem deixar de sonhar, fazendo de cada dia uma luta por torná-los realidade.
Mas acima de tudo sente. Nunca deixes de sentir o mundo como só tu já mostraste ser-se capaz de sentir.
Sente e faz o mundo em teu redor aprender a sentir.





segunda-feira, novembro 27, 2006

Não gosto de castanhas

Novos dias

Apaixonei-me por ti?
Não sei, mas atrevo-me a dizer que é bem possivel.
Se o mundo parecia ter mais cor, mais vida,
por alguma razão era.
Se as brisas traziam sorrisos, gargalhadas
e alimentavam sonhos,
não encontro outra explicação.

Se apaixonei-me por ti...?
Que diferença isso faz, agora?
Agora já não há dias claros nem radiantes
a fazer lembrar que em tempos o sol brilhou.
Os dias nebulados apenas traduzem no céu
as cores que se apoderaram de mim,
e os sonhos ruiram,
socumbiram à força das chuvas
choradas por olhos vermelhos de dor.
Realizar sonhos, nunca soube.
Nem os que eu sonho,
nem os que não se querem deixar sonhar.

Se me deixei apaixonar por ti...?
Não havia alternativa, não tive escolha.
Se tu apareceste, que podia eu fazer?

Se em tempos me apaixonei por ti?
Porque é tão mais doce a fantasia,
prefiro dizer que não...
há de chegar um novo dia
em que não me faça confusão.

...............Nelson Gonçalves (27/11/2006)




domingo, novembro 26, 2006

Sem nada que escrever...
...inventa-se!


Por momentos fiquei com o mundo a andar às voltas. Não sei se dentro da minha cabeça, apenas, ou se seria mesmo o resto do mundo. Vieste sabe-se lá de que jardim, enfeitar-me a noite, e o mundo parecia nunca mais querer parar. Ficou-me a andar às voltas, por momentos.
Quis quebrar as barreiras invisíveis que por norma construo à minha volta. Não sei mesmo se não terei quebrado algumas, ou muitas, até. E na minha mente a dúvida instalou-se... será que quiseste quebrar essas minhas barreiras ou terei sido eu a querer ver coisas que não existem?
Quisemos quebrar barreiras... ou teremos criado mais? É que ainda nem percebi se o mundo deixou de andar às voltas...




quinta-feira, novembro 23, 2006

Desfiado (não, não falta nenhuma letra)

Fui desafiado pela fresquinha e pronto, é assim.
A primeira podia ser logo esta, olhar-me ao espelho... mas ainda não começou, é só a seguir à imagem.

O regulamento é o seguinte:

Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento".
Ademais, cada participante deve reproduzir este regulamento no seu blogue.

1 - Evito ao máximo tomar medicamentos e mézinhas e toda essa panóplia de tratamentos alternativos. Normalmente deixo-me chegar um certo ponto em que não tenho alternativa a não ser tomar alguma coisa – forçado por alguem, claro.

2 - Não consigo comer tomate quente (ou molho de tomate). Natas só como se for em bolos, porque em pratos quentes dá-me a volta à barriga. Adoro sumo de ananás natural mas não suporto comer o fruto propriamente dito. Manias em termos de alimentação é do que eu tenho mais, sería uma lista quase interminavel.

3 - Por norma, sou a unica pessoa à mesa a comer com os talheres bem, os outros é que comem todos com os talheres trocados.

4 - Tenho a mania de tomar banho sempre que a garrafa de gás está a terminar (e eu, que tanto adoro um longo banho de imersão, com água praticamente a escaldar).

5 - Sou capaz de mudanças de temperamento e de humor como da noite para o dia, de repente e sem que nada o justifique (ou pelo menos, que a maioria das outras pessoas se apercebam). Ou seja, vou do 8 ao 80 em menos de um segundo.

Muitas ficaram por dizer, ou deixadas para serem descobertas por quem merecer. Dizem que tenho de passar a palavra a mais 5 blogs, assim sendo (e na esperança que prefiram ignorar, em vez de se vingarem em mim, caso não gostem da ideia) cá vão eles:
Martins
Patasso
HómémChóc (a ver se faz o segundo post...)
Mari
Mikas




terça-feira, novembro 21, 2006

Reencontro lixado (ou com o lixo, se se preferir)

Descobri isto escrito numa folha de papel que já quase estava condenada ao esquecimento e, consequentemente, à viagem para o balde do lixo. Onde já devia ter ido parar há muito tempo...


Águas paradas

Juro que não sei para onde vou
E sei que não sou nenhum génio.
Não faço ideia daquilo que sou
Talvez só desperdicio de oxigenio.

Dou-me por feliz porque não fumo,
Não me mato com um e outro cigarro.
Tento não traçar o meu rumo
Num qualquer acidente de carro.

Não dou devido valor à idade,
Revejo-me na morte de uma flor,
Não que seja por pura maldade
Mas sim porque sinto a sua dor.

Não tenho destino marcado
Mas o futuro não me conta nada,
Vou vivendo às custas do passado
Num maremoto de água parada.

Sentido sei que não faz,
Nem era suposto fazer,
Só sei que olhando para trás
Pouco há que não me faça sofrer.

................. Nelson Gonçalves, 25/11/2004




segunda-feira, novembro 20, 2006

Consequencias de um fechar de olhos


Os sorrisos cor de coração ameaçaram regressar. Por momentos pensei que ia começar tudo de novo, que ia voltar a sentir o folego a faltar sem razão aparente, que a imaginação ia voltar aos momentos de constante revolta e inquietude, a imaginar cenários hipotéticos e a ter a ideias habituais, também habitualmente condenadas ao insucesso. Desta vez soube e consegui parar a tempo e pensar um bocadinho – soube colocar-me no meu devido lugar, em vez de me deixar levar por uma qualquer história de embalar, com que normalmente me engano a mim mesmo, uma e outra vez.
As mesmas rasteiras não me podem apanhar sempre desprevenido e se posso adiá-las por uns tempos é o que pretendo fazer, desta vez. Não quero cair sempre nas mesmas esparrelas, quero ter tempo para respirar um pouco, para tentar encontrar um pouco de lucidez que seja. Porque esse tipo de loucura, quer se queira quer não, acaba por nos roubar tempo de vida e até um pouco de saúde, quando a rasteira se confirma – e por norma tem-se confirmado sempre.
Sei que hei de voltar a ser apanhado nessa teia de emoções, nesse enleio de sentimentos mal digeridos, desgovernados e condenados, desprovidos de racionalidade, por estranho que pareça. Mas de momento não sei se estou pronto para outra rasteira, tão depressa. A velocidade vertiginosa que em tempos queria para a minha vida – e que não consegui atingir – agora dá-me alguma aflição.
Curiosamente, acho que agora tudo se torna mais facil, as palavras mais timidas e os actos mais tenebrosos que sempre me faziam vacilar e recuar, agora parecem balas de encantar prontas a disparar sobre um qualquer peito repleto de emoções por descobrir.

Os sorrisos cor de coração ameaçaram regressar... quem sabe um dia me deixe entregar a eles, sem me importar com a rasteira que trarão consigo.




domingo, novembro 19, 2006

Life goes on

"Life goes on" era uma série de televisão que passou na TV2 há qualquer coisa como 14 anos (talvez) que gostava de ver (coisa de pré-adolescente sem vida própria, ou qualquer coisa assim do género). A série era sobre uma família com dois filhos adolescentes (e acho que também um bébé), que tinham um restaurante. Um dos filhos tinha o síndrome de Down. A musica do genérico de abertura era o Obladi obladá (acho que era cantada pelos próprios actores, mas não tenho a certeza) e no fim, durante os créditos, passava uma musica instrumental calma, excelente. Se alguem tiver essa musica ou souber me informar de que musica se trata, agradecia.



A origem dos nomes das terras por vezes têm histórias completamente mirabolantes, mas dá-me raiva que algumas tenham origem estrangeira, mas pelo menos o caso que vou descrever a seguir tem alguma ligação a Portugal. E serve para provar que a emigração de portugueses já acontece há milhares de anos.

Tratava-se de um emigrante algarvio em França, que tinha um filho chamado Francisco. Durante uma conversa perfeitamente normal (e sem qualquer aparente interesse) em que discutiam se o verniz que as senhoras usavam nas unhas dos pés tinha influencia directa no insucesso das plantações de bananeiras na Gronelândia, passou por perto o Francisco, ao que o visitante perguntou:

- Qui est lui?
- Il est mon fils. C’est mon Chique.

Assim nasceu o nome da serra de Monchique...
Não acreditam? Nem eu... mas tinha a sua piada, se fosse verdade.




quinta-feira, novembro 16, 2006

O já habitual olhar de carneiro mal-morto
ainda mais aperfeiçoado, com este terçolho

Tendo em conta que no post anterior os cientistas disseram que tenho olho para a beleza, sou levado a acreditar que se trata do meu olho direito (que na imagem aparece à esquerda). Acho que não fica muito espaço para dúvidas... maldito terçolho.

Entretanto, ninguem parece ter levado a sério o ultimo parágrafo do post anterior... ainda bem, também não era para levar a sério. Mas tentar não custa nada.




quarta-feira, novembro 15, 2006

Maldito terçolho... antes isso que ser zarolho

Mais um teste importantissimo e cientificamente comprovado, com uma margem de erro minima que anda entre os zero e os cem porcento. Isto é mais certo que as previsões da Maya (a da televisão)... pronto, tão certo como essas previsões...


You Are a Pegasus



You are a perfectionist, with an eye for beauty.
You know how to live a good life - and you rarely deviate from your good taste.
While you aren't outgoing, you have excellent social skills.
People both admire you - and feel very comfortable around you.
What Mythological Creature Are You?


Miúdas (acima da idade legalmente prevista, de modo a não ser considerado pedofilia), raparigas, mulheres: agora já sabem, tenho "olho para a beleza" (será o olho do treçolho? - sim pode escrever-se "treçolho" ou "terçolho"). E como tenho olho para a beleza, podem enviar fotos de corpo inteiro (se for de bikini, melhor ainda) para a caixa de e-mail que se encontra ali no canto superior direito do blog, para avaliação atenta e despretensiosa. A "sentença" será enviada de volta com total confidencialidade...




Evitar a palavra "adeus"


“Acabou. Não me perguntes porquê... Não me faças perguntas, detestava ter de te mentir mais uma vez...”
Lançaste-me assim esse infalivel punhal, por entre tremores de queixo e olhares fixos, umas vezes no chão, outras no longinquo horizonte que aquela praia vazia de inverno oferecia.
Uma forte rajada de vento entrou pela minha cabeça a ali parecia ter-se alojado para sempre, num rodopio imenso que me impedia de formular ideias, razões ou até articular palavras que fizessem sentido para que a nossa relação não sucumbisse. Afinal de contas estava destinado a terminar - sempre o disseste e só eu não o quis acreditar.
Juntei algumas palavras, na sua maioria a formularem perguntas, para tentar perceber o porquê, mas não as soltei, não sei se por respeito ao teu pedido ou se com medo das respostas que poderia ouvir. As palavras pareciam agora embater numa barreira intransponivel, impedindo-as de se fazerem ouvir.
Finalmente reuni algumas forças para levantar a cabeça e olhar para ti. Nem por um momento te viraste para mim ou tiraste os olhos do infinito horizonte onde parecias querer desaparecer. Ainda assim foi visivel uma lágrima que te percorrera a face e, junto ao queixo, preparava-se para se lançar sem pudor ao ar livre, na esperança de encontrar uma mão salvadora que a impedisse de se desfazer definitivamente na areia.
A agonia apertou-me ainda mais o peito, que por si só já não sabia que fazer para sobreviver. Aquela lágrima fez-me ter a certeza que também não era fácil para ti, mas que também era culpa minha o estado a que as coisas tinham chegado.
Deste meia volta, sem me olhar uma ultima vez, sem dizer uma ultima palavra. A maneira mais facil de guardar as outras lagrimas que certamente clamavam por liberdade. E partiste, talvez para sempre.
Eu... ali fiquei, só, como tinha de ser, como me tinhas destinado a ser.
A chorar as ondas daquele mar que já nada de belo tinha, pelo menos naquele momento. A suspirar as rajadas de vento que faziam questão de fustigar-me a face, enregelar-me a pele, consumir-me a carne e empedernir-me os ossos... a gelar-me o coração.

Nota 1: de todas as vezes que me deram com os pés, apenas uma dessas vezes ocorreu junto a uma praia, há uns anos, mas este post não quer de forma nenhuma retratar esse episódio. Isto tudo para dizer o quê? Apenas que o texto é puramente ficticio e nada tem a ver com algum episódio que se tenha passado comigo.

Nota 2: o texto de ontem tratava-se realmente de uma viagem ao cabo de S. Vicente, em Sagres. Uma viagem puramente ficticia, visto que não vou lá há muito tempo (e também nunca fui nem a conduzir, nem sózinho).




terça-feira, novembro 14, 2006

Um eterno abraço de solidão


Fotografia gentilmente
surripiada sem autorização de
worldphotolocations.com

Para trás já ficaram as montanhas, que nunca estiveram realmente perto, nem nunca foram objectivo. Ficaram para trás, como pano de fundo de um horizonte alternativo que não se escolheu. Em frente, uma estrada a perder de vista com ligeiras curvas desenhadas numa planície quase perfeita, apenas com uma ou outra ligeira subida e descida, que permitem ver o futuro, a grandes distâncias. De tempos a tempos, pequenas reuniões quase secretas de não mais que trinta árvores a envolver a estrada, de um lado e outro, a conspirarem contra a deserção aparente que os arbustos baixos se prestam a imitar, a imagem de um enorme deserto feito de arbustos até onde a vista permite ver.
Consegue-se vislumbrar ao fundo um pequeno ponto que se salienta do resto da planicie, num tom provocatório – como se de um dedo em riste se tratasse - que se vai tornando mais insolente e visivel, com o passar do tempo, com o passar das riscas de uma estrada que parece interminavel. Trata-se, afinal de contas e apenas, de um enorme edificio, erigido naquele ponto propositadamente para marcar o fim do trajecto - ou o inicio de um retorno, para quem o quiser ver assim.
A planicie, também ela, encontra o seu fim. Ao se chegar perto do edificio, encontra-se uma ravina arrogante, imponente e de certa maneira um pouco atrevida, a meter respeito a quem se aproxima demasiado com o intuito de desafiá-la, com a intenção de contradizer a pequenez do ser humano, perante a magnitude de tal construção milenar da natureza.
O carro já ficou lá atrás, perto do edificio que marca o ponto final, a chegada ao destino apontado no mapa. O céu, escurecido pelas nuvens que teimam em esconder o sol, deixa entender uma chuva miudinha que afinal de contas nem se sabe bem se é mesmo chuva. Dá a sensação que o céu é sempre assim, ali no ponto onde se encontram dois mares, onde a terra encontra o seu fim e o céu e o mar se fundem num só.
A duvida persiste e não se percebe bem se é chuva ou se não será apenas o resultado da violência com que as ondas se suicidam contra as rochas alaranjadas da ravina, esculpidas de forma indelével pela fúria avassaladora de dois mares que se confrontam naquele ponto numa batalha sem fim.
Toda a natureza é aviso à navegação, ninguém é bem vindo, nenhum ser é querido naquela parte do mundo. No entanto, algumas especies de aves persistem em viver por entre os penhascos e as ravinas, em busca de um ou outro peixe mais descuidado, que se deixe prender pela força das marés revoltas e imprevisiveis, resultantes da luta entre os dois mares.
A proximidade do abismo dá vontade de criar asas, e voar. O próprio vento forte empurra na direcção de volta à terra, em tom de aviso.
“Afasta-te”, parece dizer, em tom autoritário.
Tudo ali parece autoritário, ditatorial e talvez seja esse mesmo autoritarismo que leva a querer confrontá-lo, a desafiá-lo. A tentar provar que podemos vencê-los, a eles, os elementos da natureza. A pequenez humana, sempre a tentar fazer das suas, a tentar fazer-se maior do que realmente é.
E voar... para quando?

Se esta viagem tivesse existido, o passo seguinte só podia ser um...
...pegar no carro e voltar para trás.




domingo, novembro 12, 2006

Dias negros... chegaram

Estes ultimos dois dias foram longos, dolorosamente compridos demais de passar. Demasiado longos. Preferia ter passado directamente de Quinta-feira para hoje, Domingo, sem ter que viver estes dois dias e que tudo continuasse como era antes desta Sexta-feira. Mas infelizmente não se pode.
Há pessoas que passam por nós e nos ensinam a viver. Ensinam-nos a ver a vida como ela é, ensinam-nos coisas que os livros e as televisões nunca nos podem ensinar.

Imaginem uma pessoa, presa durante anos a uma cadeira de rodas sem movimentar pouco mais que a cabeça e os ombros, a ensinar uma criança de 5 anos a atar os cordões dos sapatos, ou fazer com que não desista de aprender a andar de bicicleta... é dificil, não é? Mas acima de tudo a ensiná-lo a lutar contra as vicissitudes da vida, a ir buscar forças para encarar todos os obstaculos que se lhe aparecem pela frente, a dar a volta às adversidades amargas que a vida tem para nos dar.

Imaginem outra pessoa que ensina a amar a natureza e tudo o que dela provém, que faz das tripas coração para dar o que tem a quem lhe importa ao coração. Que nos mostra que, independentemente de excassas habilitações literárias que se possa ter, a simplicidade de uma pessoa pode ser visivel mas isso nunca impede alguem de ser um magnifico ser humano. Que mostra que se consegue levar uma vida honrada, sem ter de se ser rico, que nos mostra que a verdadeira riqueza humana está em dar o que se tem (por pouco que seja) sem exigir nada em troca.

Faz qualquer coisa como 10 anos que perdi o meu avô materno, a pessoa de quem falo no 2º paragrafo.


Faz dois dias, dois longos e dolorosos dias, que perdi o meu avô paterno, a pessoa de quem falo no 3º paragrafo.


Ensinaram-me essas coisas e muito mais. E pensar que não consigo fazer nada com o que me ensinaram, quando na realidade deveria conseguir fazer tudo... e não consigo deixar de lhes falhar.
E que falta que fazem.

Excusam de comentar.

Nota: mudei a musica. Art of Noise, com Moments in Love (Quiet Storm Version). No botão do play, ali à direita.




sexta-feira, novembro 10, 2006

Se o sol se põe...


Queria poder guardar o sol, de preferência o pôr-do-sol, numa caixa. Dizem que um dia de sol desperta nas pessoas uma vontade de viver e uma energia que por vezes se julgava inexistente.
Queria guardar o pôr-do-sol e oferecê-lo a quem me apetecesse, a qualquer altura, fosse dia ou noite. Acho que um pôr-do-sol fica sempre bem e tem uma beleza difícil de igualar, na natureza. Seria sempre uma oferta interessante de se poder dar.
Podia ficar guardado numa caixa pequena - em madeira trabalhada, com relevos a fazerem lembrar o eterno romance do sol com a lua, tendo algumas estrelas como testemunha - e ele bem aconchegado lá dentro, para que quando fosse aberta a caixa pudesse libertar toda a sua luz radiosa, como se de uma coroação triunfal se tratasse. Como se fosse um momento marcante, na história humana.
Queria guardar o pôr-do-sol numa pequena caixa, mas não para mim. Os meus dias são escuros e sombrios, mas não quero um pôr-do-sol para mim, que não tenho com quem dividi-lo. Nem sei se, estando só, seria capaz de lhe dar o devido valor.
Quero-o para poder oferecer aos meus amigos, naqueles momentos em que, por algum motivo, se sintam sem forças. Naqueles momentos em que só consigam ver nuvens escuras e ameaçadoras a pairar sobre a sua existência ou simplesmente se esqueceram de como um pôr-do-sol pode ser belo. E poder assim fazê-los voltar a sorrir, sentirem que a natureza ainda lhes pode oferecer tanta coisa maravilhosa.
Queria guardar o pôr-do-sol numa caixa, para mostrar ao mundo o que é um pôr-do-sol.




quarta-feira, novembro 08, 2006

Despertares


Acordo demasiadas vezes, durante a noite.
Tantas que já lhes perco a conta e a razão.

Por vezes acordo...
... com os braços dormentes, como se tivessem morrido para mim, como se fosse impossivel comandá-los. Fruto de voltas e mais voltas numa cama que parece demasiado grande para um só corpo, na incessante busca de um alguém a quem me aconchegue e que me trate como seu. Um alguém que nunca está lá.

Por vezes acordo...
... a morrer de calor num mar de chamas, no inferno em que se tornou deitar-me neste colchão demasiado solitário, esperando que o meu corpo se transforme em cinzas que uma brisa de vento se encarregará de espalhar, não deixando qualquer vestigio de mim.

Por vezes acordo...
... sufocado pela falta de ar, neste imenso oceano de solidão em que me afogo, onde a luz se esfuma, onde o oxigénio rareia e onde se julga que é impossivel o ser humano resistir.

Por vezes acordo...
... olho em meu redor e só desejo nunca mais voltar a acordar.

Nota: fotografia do por-do-sol de ontem, 7 de Novembro, na Praia de Faro.




segunda-feira, novembro 06, 2006

Pedaço de Terra


Era um desejo que acalentava há muito tempo, e que ainda não tinha tido oportunidade de tornar realidade: captar uma imagem mínimamente límpida da Lua, em todo o seu esplendor.
Essa maldita confidente das noites de solidão.
Essa magnífica conselheira dos momentos de confusão e incerteza.
Essa espectadora atenta aos fracassos, às quedas e ao repetido erguer nesta batalha que não se desiste de lutar e que se chama vida.
Para todos os efeitos, um pedaço de Terra, a fazer pensar que podemos sair por aí e ficar mais perto das estrelas... ilusões de dias demasiado compridos.

Para quem vive demasiadamente no mundo da Lua como eu, nada como um retrato que ajuda a sonhar com a possibilidade de virem a haver dias melhores.
Sonhos... nada como sonhos.




domingo, novembro 05, 2006

Senza parole



Quando à natural falta de jeito para escrever se junta uma certa dificuldade em encontrar palavras que, ao juntarem-se, consigam dizer alguma coisa de jeito, vejo-me obrigado a fazer posts assim. Por um lado é até melhor, porque os textos que têm saído desta cabeça demente não deviam sequer existir na cabeça de ninguem.
Por isso fica só a fotografia tirada ao fim da tarde de sexta feira.




quinta-feira, novembro 02, 2006

Dias negros aproximam-se...
demasiado depressa


Um passeio por uma mente quase humana

Lembro-me de tentar agarrar-te,
para que não fugisses de mim.
Não fisicamente,
apesar de tal me ter passado pela cabeça,
quantas e quantas vezes,
mas apenas através de palavras.
Palavras escritas,
porque nunca tive a força
para as pronunciar na tua presença.

A minha mente,
outrora repleta de espaçosos salões,
esplanadas e quartos onde conviviamos
na minha imaginação,
agora não passa de um exíguo corredor
onde estão pendurados
todos os retratos que fiz de ti,
com o teu nome cravado
na moldura da minha carne.
E um sem numero de portas
a perder de vista, todas trancadas.

Quanto aos teus retratos,
vou tentado tapar alguns
com lençois de tempo e distancia,
enquanto outros chamam por mim,
com aquela voz inconfundivel
que vai desfiando os lençois
com que tento tapá-los.
Outros tento arrancá-los de lá, à força,
apesar de estarem presos à parede
pelas minhas veias.
Arrancá-los significa sangrar por dentro
até ao limite da racionalidade.
Mas pouco mais há a fazer
e pouco importa.

Resta-me encontrar a porta de saída...
ou sangrar além do possivel.

Foste o sonho mais lindo que tentei viver,
e que acabou com o toque de um despertador
que nem fui eu que o ligou...
...o despertador mais previsivel de todos.

.........Nelson Gonçalves (30/10/2006)






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