Under the rain
11 de Maio de 2005.
Noite de concerto de Alanis Morissette, na Semana Académica da Universidade do Algarve.
Saí de casa sem qualquer coisa combinada com quem quer que fosse. Ao chegar à porta do recinto, no campo de futebol da Penha, uma chuvada que fazia prever o pior: o cancelamento do concerto. Ainda assim entrei, depois de alguns minutos minimamente abrigado numa árvore à porta das piscinas, ainda do lado de fora do recinto.
Pouco depois a chuva deu tréguas e foi possível entrar sem grandes sobressaltos, no meio de toda a multidão que não se importou muito com a chuva. Convenhamos que, apesar de não ser ao gosto de toda a gente, naquela altura Alanis Morissette ainda era um nome grande do panorama musical, ao nível de outros nomes grandes que vieram às Semanas Académicas do Algarve.
Acabei por me encontrar com um grupo de amigos, e amigos de amigos, e ali fiquei a ver o concerto. A dada altura, parte do grupo dirigiu-se às barracas, para atestar. Eu optei por ficar, a assistir ao concerto. Alguns pingos de chuva faziam prever o pior – outra enxurrada? Os pingos de aviso fizeram com que os restantes elementos do grupo que não tinham ido às barracas quisessem ir procurar um sítio que os abrigasse da possível chuvada.
“Vamos lá para trás, que vai começar a chover”, disseram-me.
“Mas eles foram buscar bebida, devem estar aí a chegar”, retorqui.
“Olha, ali estão eles a chegar, bora”, ouvi de volta.
“Mas… falta a [nome_de_rapariga]”, disse eu.
“Está a começar a chover, vais esperar por ela aqui?”, perguntaram-me.
“Espero o tempo que for preciso”, disse sem pesar as palavras.
A primeira reacção que vi na cara de quem falava comigo foi um sorriso de quem tinha percebido perfeitamente o que eu estava a dizer.
E, pela primeira vez e nessa noite, ao fim de tanto tempo não o neguei, nem sequer tentei. Esperaria o tempo que fosse preciso. Em poucos segundos aquele sorriso transformou-se, deu lugar a uma feição de compaixão e provavelmente alguma tristeza por saber mais do que eu, e acabou numa conversa sobre como as coisas nem sempre são como queremos, que por gostarmos de uma pessoa esse alguém pode não ter a mesma ideia sobre nós e que, no fundo, a culpa não é de ninguém. Dizem que é assim que as coisas são e que não há nada a fazer.
A bem ou a mal, tentei convencer-me que essa é uma verdade incontornável.
E não sei que pensar do facto de que, no meio disto tudo e ao fim destes anos todos, volto de forma recorrente a vestir a pele daquele ser, no meio da chuva, à espera o tempo que for preciso…