"nada" a declarar...
Deixo por dizer
Conheço os passos que trilhas… talvez não todos,
mas os suficientes para saber onde te encontrar.
E podia torná-los meus… mas não o faço.
Porque seriam sempre o teu e o meu caminho,
nunca seriam o nosso caminho.
Vejo a tua face em todos os espelhos,
todas as janelas e todas as vitrinas
que se me deparam pela frente.
E nem sei ao certo se a vontade é esquecer-te
ou aproximar-me sem retrocesso…
até ao ponto de ruptura que pedirás.
Volta e meia vem-me à mente
mais um chorrilho de convites nados-mortos,
devotos de uma ininterrupta loucura
que me assombra o corpo de lés-a-lés.
Por vezes consigo conter-me
e o silêncio sepulcral permite-me sobreviver,
nem que seja apenas por mais um dia.
Outras vezes, meto na cabeça a néscia vontade
de esperar ouvir algo diferente de um não.
Todas as noites, em rejeição a mim próprio,
arranco o coração e deito-o fora,
na esperança de te esquecer.
Submerso apago-me, com as mãos lavadas
no sangue de lágrimas que verto em silencio,
na solidão pura do meu intocável quarto,
onde as sombras me tornam um pouco humano…
ou demasiado humano…
Fecho os olhos em suplica,
com a vã esperança de não os voltar a abrir.
E ao acordar bate-me no peito um coração novo,
mas que já sabe o teu nome de cor,
à medida que o sussurra em gritos, a cada batimento…
A batalha de um novo dia inteiro recomeça,
e o dia anterior nada me ensinou,
senão a continuar a respirar,
mesmo que não queira.
Mas que seria de mim…
quem seria eu se não gostasse de ti?
E todas as horas, os minutos, os segundos
luto contra os fantasmas de mim próprio
com o singular intuito de tentar ser mais:
tentar ser mais do que apenas um "bom dia",
tentar ser mais que apenas um "boa noite"…
tentar ser mais que todos os "amo-te" que deixo por dizer.
..........................Nelson Gonçalves (21/01/2009)