quinta-feira, janeiro 22, 2009

"nada" a declarar...



Deixo por dizer

Conheço os passos que trilhas… talvez não todos,
mas os suficientes para saber onde te encontrar.
E podia torná-los meus… mas não o faço.
Porque seriam sempre o teu e o meu caminho,
nunca seriam o nosso caminho.

Vejo a tua face em todos os espelhos,
todas as janelas e todas as vitrinas
que se me deparam pela frente.
E nem sei ao certo se a vontade é esquecer-te
ou aproximar-me sem retrocesso…
até ao ponto de ruptura que pedirás.

Volta e meia vem-me à mente
mais um chorrilho de convites nados-mortos,
devotos de uma ininterrupta loucura
que me assombra o corpo de lés-a-lés.
Por vezes consigo conter-me
e o silêncio sepulcral permite-me sobreviver,
nem que seja apenas por mais um dia.
Outras vezes, meto na cabeça a néscia vontade
de esperar ouvir algo diferente de um não.

Todas as noites, em rejeição a mim próprio,
arranco o coração e deito-o fora,
na esperança de te esquecer.
Submerso apago-me, com as mãos lavadas
no sangue de lágrimas que verto em silencio,
na solidão pura do meu intocável quarto,
onde as sombras me tornam um pouco humano…
ou demasiado humano…

Fecho os olhos em suplica,
com a vã esperança de não os voltar a abrir.

E ao acordar bate-me no peito um coração novo,
mas que já sabe o teu nome de cor,
à medida que o sussurra em gritos, a cada batimento…
A batalha de um novo dia inteiro recomeça,
e o dia anterior nada me ensinou,
senão a continuar a respirar,
mesmo que não queira.

Mas que seria de mim…
quem seria eu se não gostasse de ti?
E todas as horas, os minutos, os segundos
luto contra os fantasmas de mim próprio
com o singular intuito de tentar ser mais:
tentar ser mais do que apenas um "bom dia",
tentar ser mais que apenas um "boa noite"…
tentar ser mais que todos os "amo-te" que deixo por dizer.

..........................Nelson Gonçalves (21/01/2009)




quinta-feira, janeiro 15, 2009

Trajectos, projectos, concretos

Cheguei ao fim do trajecto. De um trajecto que tinha definido, há coisa de um ano e meio.

A 2 de Novembro de 2007 fiz uma deslocação a Coimbra (com um desvio por Aveiro, no dia anterior). Objectivo principal: efectuar uma consulta oftalmológica que me permitiria saber da possibilidade para fazer uma operação de correcção à miopia.
No final da consulta, depois de tudo diagnosticado, lá assinei os papéis que os autorizavam a fazer-me tal cirurgia.
No inicio de Fevereiro de 2008 fiz a operação à vista direita. Tive de fazer mais umas consultas de acompanhamento, tudo correu normal e a operação à vista esquerdo lá se fez, seis meses depois. Depois, mais algumas consultas de acompanhamento.

Esta 3ª feira, aproximadamente um ano e quatro meses depois da primeira consulta, foi-me dada a “alta médica”. Foi a última consulta de acompanhamento que tive de fazer a Coimbra… mais de uma dezena de viagens depois, mais de 9000 kms depois.

E o fim desse trajecto – o corrigir a falta de vista que me afectava – deixa-me extremamente feliz, por tudo o que me vai permitir fazer, como se de uma pessoa normal (ou mais perto de ser normal) me tratasse.


O próximo trajecto - que está em marcha desde há poucos dias, mas que já me vinha fazendo dar voltas à cabeça há uns tempos - vai ser mais trabalhoso, mais dispendioso.

Fazer uma casa… fazer aquela que será a minha casa, o meu lar… o meu castelo.


Nota - foi corrigida a miopia, não o daltonismo, ok?




quarta-feira, janeiro 07, 2009

Hiper-minimalista

Podia ser uma pessoa algo simplista, quase minimalista, e limitar-me a dizer "gosto de ti". Quem pouco ou mal me conhecesse até ficaria convencido que tal seria normalíssimo, pois sou um bocado introvertido perto de pessoas que pouco ou mal conheço e ao verem-me fazer tal coisa achariam normal.

Poderia até ser uma pessoa mais elaborada, entregue à louca intensidade de se tentar viver uma paixão em todo o seu esplendor, dizendo aos quatro ventos como és bela, apontando a beleza que emanas, a forma doce como os cabelos se deixam descair sobre as tuas costas, a maravilha do teu suave sorriso que me deixa embasbacado, o brilho dos teus olhos que me tiram as palavras e o som da tua voz que desperta em mim um alerta absurdo de esperança em ouvir o meu nome falado ao timbre da tua boca.

Mas não... sou ainda mais louco que isso. Preciso sê-lo, porque sei que se fosse apenas assim não teria a mínima hipótese. Como não sou rico – mesmo que acredite que não é isso que te move – nem tenho o corpo musculado que as mulheres tanto parecem procurar e apreciar. Como não tenho um sorriso do outro mundo que prenda alguém, muito menos um olhar matador que desarme a mulher mais empedernida. Como não sou um Adónis, nem pouco mais ou menos.

Como tenho noção disso levo-me a mim próprio aos limites da loucura, ou pelo menos àquilo que acho que o seja. E é essa loucura – que de saudável duvido que tenha alguma coisa – que me permite admirar o teu indelével toque no mundo, naquilo em que ele se tornou desde que apareceste. Alguns dos pequenos pormenores que a maioria das pessoas não se dão ao trabalho de reparar, seja por falta de tempo ou de vontade.


Noto como é sublime a tua forma de escrever, e cada vez que vejo uma letra tua já sei de quem é, como se estivesse a ouvir a tua voz, para mim já inconfundível, a ditar-me aquelas palavras ali deixadas por ti.

Tenho especial apreço pela maneira como escreves o 9. Não me lembro de ver um 9 tão belo, tão preciso, em toda a minha vida. Se tivesse de existir um modelo de 9 que tivesse de ser seguido por toda a gente, teria de ser o teu 9. Se um simples 9 fosse suficiente para ser uma obra prima, então esse 9 teria de ser o 9 escrito por ti. É como se o 9 tivesse finalmente exibido toda a sua importância, como se tivesse criado uma nova forma de ser e a matemática tivesse sido inventada só para se chegar ao teu 9.

É a este tipo de loucura que me refiro, que me vai alimentando, que tenho contida dentro de mim, porque dizê-lo a quem quer que seja mais não seria do que tornar-me alvo de chacota. Duvido que mais alguém perceba tamanha loucura.

É a loucura que guardo dentro de mim, porque por fora, perto de ti nem minimalista consigo ser. Nem um "gosto de ti" consigo dizer.

"Só eu sei ver o Sol nascer".






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