Confinado à "solitária" de nome vida
Oiço o despertador gritar comigo. Dá-me um empurrão, como que dizendo “levanta-te, tens de ir trabalhar”. Faço por ignorar o tom ameaçador e agressivo com que me acorda.
Faço uma leve carícia na almofada e dou-lhe um beijo de bom dia. Ao fazer a barba pergunto ao espelho como dormiu… não me responde, talvez tenha acordado de mau humor. Aqueço o pequeno almoço e tento meter conversa com o fogão perguntando como acha que vai-lhe correr o dia… mais uma vez o silencio imperou. Terei feito alguma coisa errada, no dia anterior, para receber este tratamento tão frio e distante? Enquanto lavo os dentes volto a puxar conversa com o espelho, e já em desespero de causa lá vou dizendo que o tempo até não está mau e, apesar do vento que se faz sentir, pelo menos o sol ainda nos brinda com um calor amistoso…
Nada... nenhuma reacção e o silencio já soa a castigo que nem sei se sou merecedor.
Volto ao meu quarto, para apanhar as chaves, antes de sair para o trabalho.
Olho para a cama, ainda desarrumada… acordei do lado deserto da cama.
Só agora reparo que o lado deserto daquela cama se estende pela casa toda… pela vida toda.