quinta-feira, março 27, 2008

Confinado à "solitária" de nome vida


Oiço o despertador gritar comigo. Dá-me um empurrão, como que dizendo “levanta-te, tens de ir trabalhar”. Faço por ignorar o tom ameaçador e agressivo com que me acorda.
Faço uma leve carícia na almofada e dou-lhe um beijo de bom dia. Ao fazer a barba pergunto ao espelho como dormiu… não me responde, talvez tenha acordado de mau humor. Aqueço o pequeno almoço e tento meter conversa com o fogão perguntando como acha que vai-lhe correr o dia… mais uma vez o silencio imperou. Terei feito alguma coisa errada, no dia anterior, para receber este tratamento tão frio e distante? Enquanto lavo os dentes volto a puxar conversa com o espelho, e já em desespero de causa lá vou dizendo que o tempo até não está mau e, apesar do vento que se faz sentir, pelo menos o sol ainda nos brinda com um calor amistoso…
Nada... nenhuma reacção e o silencio já soa a castigo que nem sei se sou merecedor.
Volto ao meu quarto, para apanhar as chaves, antes de sair para o trabalho.
Olho para a cama, ainda desarrumada… acordei do lado deserto da cama.
Só agora reparo que o lado deserto daquela cama se estende pela casa toda… pela vida toda.




segunda-feira, março 24, 2008

Say what??


Há dias em que não se passa nada de particularmente especial. Mas de vez em quando lá há um episódio rocambolesco que nos faz pensar "onde raio é que eu vim parar? Ontem não era assim".
Afinal de contas é o mundo onde vivemos, para o bem ou para o mal.
Em qualquer altura se pode ouvir uma amigável troca de ideias como esta, por exemplo:

- Deves ter a mania qués munta boa, deves, *!
- Eu não tenho a mania, tenho a certeza. Agora tu, nem a uma fechadura consegues satisfazer, *!
- Não tenhas cuidado, não. Ainda te aparece a ÁZAI e manda fechar-te as pernas por falta de condições de higiene, *!


Os *'s estão apenas a substituir palavras de índole mais... carinhosa, que preferi não colocar aqui para manter o nível elevado.
Será que é assim, um dia normal numa sociedade... civilizada? Diz que sim, que tem dias.




quinta-feira, março 20, 2008

Quando a gente se faz gente
não há cidade à noite que nos faça frente

Por vezes há certos acontecimentos que se antevêem com uma ansiedade avassaladora e, apesar dês todos os receios que possam rondar os nossos pensamentos, esses acontecimentos acabam mesmo por ter lugar e todos os possíveis desencontros que poderiam comprometer ou impedir esses acontecimentos acabam por não se realizar, fazendo acreditar que nem sempre as leis de Murphy estão a ser aplicadas, como pensávamos. E esses episódios não precisam de decorrer da forma mais maravilhosa que tínhamos imaginado, podem simplesmente ser “normais” porque permite a existência da perspectiva de um dia - quiçá até bem próximo – em que as coisas corram novamente “normais”, o que por si só já era uma garantia de que tinha voltado a acontecer. O facto de não ter sido mau ou decepcionante – espero eu - do ponto de vista alheio, já faz com que a insónia se torne mais aceitável e se fique com um sorriso estúpido a olhar para o tecto de um quarto vazio.

E quem sabe se um desses acontecimentos não deixa de ser “normal” e passe a ser extraordinário (para mim já o foi e estive lá).

post scriptum – sim, fiz o que pude para ser, pelo menos, normal, porque assim evito que seja um fracasso.


A musica que deixo aqui hoje é outra coisa magnifica, que por acaso já conhecia há uns tempos, mas que apenas lhe prestei atenção na ultima terça-feira, em mais um périplo Faro-Coimbra-Faro para mais uma consulta de rotina aos olhos.
Há quem diga que esta Delilah existe (é claro que existe, todas as musicas/letras/poemas de amor são dedicados a alguém). A letra é bem bonita, e a musica em si também.
Chama-se Hey there Delilah, dos Plain White T’s e foi lançada inicialmente em 2006, ganhando grande relevo a partir de meados de 2007.
E, evidentemente, a excelente letra pode-se encontrar um bocadinho mais abaixo.



Hey there Delilah
What's it like in New York City?
I'm a thousand miles away
But girl, tonight you look so pretty
Yes you do
Times Square can't shine as bright as you
I swear it's true

Hey there Delilah
Don't you worry about the distance
I'm right there if you get lonely
Give this song another listen
Close your eyes
Listen to my voice, it's my disguise
I'm by your side

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
What you do to me

Hey there Delilah
I know times are getting hard
But just believe me, girl
Someday I'll pay the bills with this guitar
We'll have it good
We'll have the life we knew we would
My word is good

Hey there Delilah
I've got so much left to say
If every simple song I wrote to you
Would take your breath away
I'd write it all
Even more in love with me you'd fall
We'd have it all

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me

A thousand miles seems pretty far
But they've got planes and trains and cars
I'd walk to you if I had no other way
Our friends would all make fun of us
and we'll just laugh along because we know
That none of them have felt this way
Delilah I can promise you
That by the time we get through
The world will never ever be the same
And you're to blame

Hey there Delilah
You be good and don't you miss me
Two more years and you'll be done with school
And I'll be making history like I do
You'll know it's all because of you
We can do whatever we want to
Hey there Delilah here's to you
This one's for you

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
What you do to me.

(Hey There Delilah, Plain White T's)


mais um post scriptum - tirei as pontuações por estrelas porque reparei que tornam o blog um bocado pesado e lento. A quem votava (tão generosamente, diga-se) o meu muito obrigado. Era tão facil dar nota minima, porque era anonimo, mas pelos vistos ninguem se lembrou disso.




segunda-feira, março 17, 2008

E eu, que não gosto de vinho tinto


Era uma noite quente de Verão, há quase cinco anos atrás.
Combinei uma saída com uma rapariga, sem sequer termos definido um destino ou o que quer que fosse. Apenas que a iria buscar a certas horas da noite, ao sitio onde ela estava hospedada.
Para surpresa minha, ao chegar lá ela apresentava-se com um chapéu de sol sobre o ombro direito e uma mochila às costas. Sem me dar tempo de questionar o que se passava, disse-me “Olha, vamos para a praia”. Nem discuti – nem quis.
Chegados ao destino, assim que estacionei o carro ela pôs-se logo a caminho do areal e a mim não me restou grande alternativa que não fosse ir atrás dela.
Escolhido o local – a pouco mais de cinco ou seis metros da rebentação da maré cheia - coloquei o chapéu de sol enquanto que ela tirava da mochila duas toalhas de praia que prontamente estendeu debaixo do dito chapéu de sol.
Ao sentarmo-nos nas toalhas de praia, ela chega novamente à mochila e para meu espanto tira 2 copos e uma garrafa de vinho tinto, escolhido a dedo para mim que não percebo grande coisa da matéria. E ali ficámos, a conversar enquanto bebíamos o vinho e as ondas passavam por perto ao compasso da maré que ia vazando.
Quando demos por nós, a meio da conversa, já a luz do dia se preparava para nos apresentar um novo e diferente amanhecer.
Nunca o vinho tinto me tinha sabido tão bem… nem voltou a saber.

Porque é que tem de ser sempre o homem a tentar surpreender a mulher (ou uma mulher)? Ainda por cima, tendo em linha de conta que as mulheres são bem mais difíceis de contentar.
Se gostam tanto de serem surpreendidas, será caso que não vos passa pela cabeça que a nós, homens, também sabe bem ser surpreendido de vez em quando?

PS - apenas um pequeno detalhe nesta história não é verídica, e aviso já que quem disser "a história toda" não acerta




quinta-feira, março 13, 2008

O desejo do sonho impossivel de sonhar



Fechei os olhos uma última vez…
Soube bem, mesmo de olhos cerrados, voltar a ver-te. Relembrar todos os pequenos detalhes que te fizeram sublime aos meus olhos, até ao ínfimo pormenor. Deverias estranhar, se te falasse que notei no pequeníssimo ponto negro que tens na mão direita, mesmo perto de onde começa o dedo indicador. Talvez te assustasse saber que recordo todos esses pequenos detalhes. Ou a maneira como a fina pulseira de fio preto que usas no pulso direito encontrou de se encostar à tua mão, como que pedindo uma carícia dos teus dedos, certamente sabendo da perfeição do teu toque.

Fechei os olhos uma última vez e lembrei-me…
…do tom dos teus cabelos lisos, nesse castanho claro, mesclado com madeixas alouradas, que faz com que o sol pareça brilhar com mais intensidade mesmo que seja um dia chuvoso, num céu coberto de nuvens cinzentas. Lembrei o som dos teus passos, que reconhecia, mesmo quando ainda vinhas bem longe, num corredor sobre o qual eu nem tinha visibilidade, e a ânsia que provocava em mim pensar que me pudesses dirigir uma palavra e eu – invariavelmente – não encontrar uma resposta à altura, que te deixasse presa a mim, que te fizesse lembrar de mim até ao dia seguinte.

Fechei os olhos uma última vez…
…e vi esses olhos que me deixaram apaixonado há muitos anos atrás. Ingénuo, ainda não sabia eu que voltarias a entrar no meu universo, passado tanto tempo. E de maneira tão retumbante, tão avassaladora. Noutros tempos não passavas de uma miragem longínqua que se sabe que fica longe demais… agora tornaste-te miragem demasiado presente, demasiado próxima que dá vontade de alcançar e nos lábios matar uma sede que se prolonga por demasiados desertos…

Fechei os olhos uma última vez, para sempre…
…porque agora sei que parte de mim sempre se recusou esquecer-te.




sábado, março 08, 2008

Pois estavas, mas não era comigo... como sempre


Talvez fosse noite, talvez não... e não faço mais comentários
Eric Clapton e o Wonderful Tonight, sem mais adjectivos, porque nem é preciso.



It's late in the evening
she's wondering what clothes to wear.
She puts on her make-up
and brushes her long blonde hair.
And then she asks me
"Do I look all right?"
And I say "Yes,
you look wonderful tonight."

We go to a party
and everyone turns to see
This beautiful lady
that's walking around with me.
And then she asks me
"Do you feel all right?"
And I say "Yes,
I feel wonderful tonight."

I feel wonderful because I see
the love light in your eyes.
And the wonder of it all
Is that you just don't realize
how much I love you.

It's time to go home now
and I've got an aching head,
So I give her the car keys
and she helps me to bed.
And then I tell her,
as I turn out the light,
I say "My darling,
you were wonderful tonight.
Oh my darling,
you were wonderful tonight."


(Wonderful tonight, Eric Clapton)

Post numero 500 desta coisa...




quinta-feira, março 06, 2008

Para onde o mundo vai...?


Tenho de ganhar o Euromilhões ou a Lotaria, para ver se arranjo mulher.

Dedicado ao dia da mulher, que se aproxima.




segunda-feira, março 03, 2008

E o paraíso aqui tão perto... e inalcançavel


Esta noite choveu.
De tal forma violenta que inundou todo o mundo conhecido e tudo se transformou num quadro surreal onde se podiam encontrar baleias nas estações de serviço, tubarões a patrulharem as estradas, cavalos-marinhos a jogarem xadrez contra búzios do mar num qualquer banco de jardim ou cardumes de sardinhas a atravessarem estradas pela passadeira como se de uma turma de crianças de um jardim-de-infância se tratassem. E toda a humanidade se desfizera, desaparecera submersa neste novo mundo submarino que invadira os outrora continentes resplandecentes de vida.

Esta noite choveu…
…de forma copiosa, como se o céu quisesse desabar sobre mim. Como se o céu me estivesse a castigar por tudo de mal que há ao cimo da terra… como se a culpa fosse minha. No entanto, ao amanhecer, tudo era seco, desértico, ermo poeirento onde os ventos conversam entre si sem que as pessoas os entendam. E as pessoas continuavam seus afazeres como se nada de estranho ou anormal se tivesse passado, nas suas vidinhas corriqueiras, plenas de rotinas. Os camiões nas estações de serviço a abastecerem-se, os carros da polícia a patrulharem as estradas, os idosos e reformados a jogarem suas partidas de xadrez na sombra de um qualquer banco de jardim ou as crianças a passarem a estrada em fila indiana, a caminho de mais uma visita a um museu.

E esta noite choveu copiosamente, nesta tempestade que me habita… destas nuvens negras que me toldam os olhos e a mente…

…esta noite choveu de dentro de mim. E só eu soube.






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