quinta-feira, março 26, 2009

Lenta mente mente



Estava um fim de dia magnífico. Respiravam-se os primeiros raios de sol do inicio da Primavera, e o aumento da temperatura era visível na ausência dos casacos que durante meses se tinham avolumado sobre os corpos.

Numa esplanada com vista para uma marina, um grupo mais animado percorria os minutos de relaxamento após mais um dia de trabalho, com uma ou duas imperiais, alguma conversa e muitas gargalhadas.
Qualquer assunto servia para conversar e não havia tabus. Pequenos episódios mais ou menos alegres, mais ou menos surreais do que se havia passado naquele dia de trabalho eram dissecados até à exaustão não sem antes se aventar hipóteses imaginárias do que seria se tivessem reagido de maneira diferente a uma determinada situação.
Os nomes dos barcos ancorados não podiam deixar de ser gracejados, e passavam tempos infindáveis a inventar teorias para a razão de ser de cada nome, enquanto criavam também possíveis nomes para barcos que viessem a ter, num futuro mais desprendido economicamente. Cada nome mais inverosímil que o anterior, como se fosse uma competição para encontrar o mais estranho de todos e que mais gargalhadas provocasse.

De repente uma das raparigas levanta-se, arruma a cadeira e mete a mala a tira-colo.

- Bem, tenho de ir…

- Eu levo-te, disse um deles, enquanto tentava tirar a carteira para pagar a conta.

- Deixa, não é preciso. Vou a pé, é logo ali.


Ele voltou a sentar-se, cabisbaixo. Ela foi embora e durante uns instantes os sorrisos fecharam-se e um silêncio grassou por aquela mesa. Todos sabiam que não era “logo ali”, que afinal ainda era uma volta bem grande e que a boleia seria aceite, se não tivesse proveniência em quem teve.

- O tempo está mesmo bom, hein? – ouviu-se timidamente, numa clara tentativa de motivar outros tópicos de conversa e desbloquear o constrangimento que se tinha apoderado daquela mesa. PArecia não ter sortido efeito. Outra voz se levantou.
- Realmente já tinha saudades de um solzinho assim... vai outra imperial?

Na iminencia do fim de tarde ficar por ali, ele acedeu... esboçou um esforçado sorriso, como que aceitando a oferta de aconchego...

E a conversa lá voltou a ganhar algum ritmo, mas com muito menos gargalhadas. Pouco tempo depois começaram a debandar em direcção às suas casas, cada um a seu tempo, cada um para seu lado.

Para o fim tinha ficado o rapaz cabisbaixo, ainda sem conseguir disfarçar o desgosto de mais uma pequena e eterna rejeição. Ouve-se então, entre-dentes:

- Gostas mesmo dela, não é?

Ele encolhe os ombros, conformado. E fazendo alusão a uma vontade que não escolheu, respondeu:
-E o que é que isso contribui para a minha felicidade…?


E foi-se embora, ficando a pensar o resto do dia naquela que era a frase que melhor o caracterizava …

“o que é que isso contribui para a minha felicidade?”…




quarta-feira, março 18, 2009

Importa-se de repetir?



"O 25 de Abril devia ter sido um dia antes, para o feriado não calhar num sábado..."


Há coisas fantásticas, não há?
E é nas alturas em que ouvimos tiradas destas que achamos que a inteligência é uma delas.




segunda-feira, março 16, 2009

De derrota em derrota, até à desilusão final



Como a glória pode ser tão efémera? Como é que uma mínima vitória (mesmo que apenas parcial, e proclamada unilateralmente) pode ter tão pouco valor e durar tão pouco tempo?

É injusto!

Dizer que é escusado é pouco.
Chega a ser injusto.
Depois de terem passado tão poucos meses desde que declarei guerra a mim mesmo, e coloquei bem alta a fasquia que dizia que iria conseguir esquecer-te.
Depois de passados tão poucos dias desde que pela primeira vez me achei com moral para gritar vitoria, mesmo que apenas num suspiro que nem durou um segundo…

Tu: que nunca foste de dar nas vistas; que sempre quiseste procurar a sombra; e sempre te esquivaste às luzes da ribalta que procuram exemplares únicos de beleza na natureza, como é o teu caso…
Logo agora tinhas de vir reclamar atenção, mesmo que sem intenção e sem ser por vontade própria… e eu tive de procurar forças onde já não as tinha, tive de fazer de conta que não ouvia o que se passava ao meu redor, fazer de conta que as lágrimas que te corriam pela face não faziam nascer em mim muitas mais que derramava por dentro. E mais não pude fazer que admitir a minha total impotência e inutilidade, enquanto alguém curava as tuas feridas e as minhas aumentavam a um ritmo exponencial, num silencio que forcei a mim mesmo...

Logo hoje tinhas de te dirigir a mim, fazendo de conta que por momentos sabes que eu existo…


Não há vitorias morais… afinal, ainda não ganhei nada… nem podia… nunca deixarias.




quinta-feira, março 12, 2009

Coisas decoração



Ontem foi dia de fazer os exames médicos por causa daquela cena da saúde no trabalho e sei lá que mais (gostei do lirismo nesta pequena e singela, mas muito trabalhada, frase).

Devo admitir que ia com muitos receios. E passo a enumerar apenas alguns dos receios:

- que, quando tirasse a blusa, me caísse uma enorme bola de cotão do umbigo, isto apesar de eu até ter tomado banho nessa manhã (calhou, foi um mero acaso que se deu, eu sei);

- que, ao ler o meu electrocardiograma, o médico dissesse “amigo, vejo aqui uma série de desamores e cicatrizes, isso tem de acabar. Desista disso de uma vez por todas, se quer viver mais uns anos”;

- que no exame à urina me dissesse “você diz que fez desporto durante muitos anos, mas eu aqui só detecto 7 cachorros quentes e bastantes batatas fritas, apenas no ultimo mês!”;

- que no exame ao sangue a reacção fosse “ tivemos dificuldade em encontrar sangue no meio de tanto álcool, vamos ter de fazer um exame rectal para ver o que se passa”.



Felizmente nada disto se concretizou.
Correu tudo bem e não me apontaram nada a necessitar de mudança. O médico até disse que notava-se no electrocardiograma que eu tinha feito desporto e que devia continuar, porque o coração apresentava-se em excelente forma…
...mal sabia ele da missa a metade.




terça-feira, março 10, 2009

O bater no fundo de uma garrafa vazia



Tenho uma pancada especial para dar atenção às letras das músicas. Acho que uma música com uma boa letra consegue contar histórias de qualquer tipo, umas mais profundas outras que, apesar de não terem o mínimo interesse ainda assim conseguem dar um bom andamento a uma música boa.



Fim de tarde de mais um dia de trabalho. Mais um cansado e moribundo regresso a casa, por entre filas de carros e uma vontade de nem levantar a cabeça, corroído por dentro. A pensar em tudo e em nada ao mesmo tempo, feito autómato no caminho de regresso a casa onde me espera o mesmo de sempre.
A pensar, no fundo, se deveria desviar-me dos carros que passam a meu lado, seja em sentido contrário, seja os loucos que me ultrapassam embrutecidos por uma velocidade imprudente, seja pelos turistas-do-domingo-eterno que cada vez que se aventuram a sair de carro para onde quer que seja, o carro dificilmente passará dos 25km/h. Volta e meia atravessa-se uma curva pelo caminho… questiono-me momentaneamente se devo seguir o seu serpentear, ou simplesmente seguir a direito. Que se perdia? Quem se perdia? Quem daria por isso? Quem daria alguma coisa por isso…? Talvez chorassem a perda de um carro em perfeito bom estado…

Volto à realidade a tempo de fazer o serpentear da curva… ainda não é desta. Para tentar esquecer o que me rodeia presto um pouco mais de atenção à musica que passa. Já sei as letras quase todas de cor, não fosse um CD com escolha feita por mim que está a passar incessantemente no meu carro. Costumo dizer que sem a música a tocar o meu carro recusa-se a andar.
Tenho tendência para parar em partes de certas músicas e tentar decifrar a intenção por detrás de determinada frase, tentando dar-lhe um significado que se calhar nunca teve, pelo meio de uma história que se calhar a letra da música nunca teve.

A musica dizia

And we're standing outside of this wonderland
Looking so bereaved and so bereft
Like a Bowery bum when he finally understands
The bottle's empty and there's nothing left

Pela minha cabeça não passava a ideia de um grupo qualquer de música, saído do bar decadente da noite de Londres onde haviam acabado de tocar, ao fim da noite e já depois de finalmente o dono do bar lhes ter pago pela actuação da noite.
A imagem que se formou na minha mente estava muito longe de ser essa. Via um náufrago, numa ilha deserta, uma minúscula ilha deserta. Com uma azul garrafa vazia com uma pequena lasca na sua base – insuficiente para comprometer a sua integridade interior - uma rolha à medida, uma única folha de papel e um pequeno pedaço de carvão.
Com o carvão, escreveu um pedido de socorro na única folha de papel que tinha, meteu-a na até então vazia garrafa, tapou-a cuidadosamente com a rolha, de modo a que ficasse bem estanque e a sua mensagem não se perdesse ao sabor da água salgada do oceano infindável que o circundava.

Lançou-a ao mar e esperou. E desesperou. E enlouqueceu de esperar. A noite conselheira trazia-lhe de volta alguma sanidade, aconselhado pela sabedoria da lua e a companhia das estrelas. Até que um dia a azul garrafa com a base lascada voltou à praia da ilha de onde havia sido lançada… sem papel… sem salvação… sem nada…

The bottle's empty and there's nothing left…




segunda-feira, março 09, 2009

Pelo bem generalizado




Aproveitei este Domingo e contribui decisivamente para a felicidade das mulheres de uma forma generalizada: fiquei em casa e assim evitei estragar o dia a qualquer uma delas.




quinta-feira, março 05, 2009

Numa de coisa e tal... estão a ver? eu também não

Ok, aderi ao Twitter.
Provavelmente não vou ligar nada àquilo, mas enfim. Pelo menos não me podem acusar de ser avesso a novidades.

Quem quiser pode encontrar-me (salvo seja, porque não sei com que frequência irei ver aquilo) em www.twitter.com/oitoouoitenta

Agora vou para o vale dos lençóis descansar o cadáver, que amanhã trabalha-se e tenho dormido um bocado mal desde domingo.

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segunda-feira, março 02, 2009

Mais uma "magnifica" expressão para ficar gravada nos eternos canhenhos de coisas estupidas que invento



É assombrosa a infalibilidade humana quando se trata de dar um "tiro no pé"...
...nunca falha!






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