terça-feira, julho 31, 2007

Sombras ensombradas


A sombra derrete-me... com uma vontade avassalador de conquistar um mar de sol. Um mar de sol que atravessa a rua de um lado ao outro, com excepção deste pequeno ponto em que me encontro, mas queimando tudo em seu redor.

Ao fundo... a tua janela, uma e outra vez, sempre a mostrar-se a mim, quando passo por aqui. E agora reparo que há mais janelas abertas na tua casa. Em pleno dia, como que a dizer “entrem e que tomem o que me pertence, este coração que teima em me enganar" para se entregar a alguem. Porém recusas-te a fazer-me pessoa e aqui fico, guardião de sombras alheias.

À flor mais linda que pude encontrar, embelezei-a com um colar de fotografias tuas. Maquilhei-a com as tuas feições e chamei-lhe mãe-natureza. Reguei-a com mil beijos e lancei-a ao mundo, para que fizesse florescer um novo planeta, no lugar deste, que lentamente se consumia.

Já te perdi, amor... e nem te vi.
Tornei-me sombra sem espelhos e pedaço de escuridão sem olhos.
Vazio de ti... de mim... do mundo.




domingo, julho 29, 2007

(des)nomenclatura


Em tempos escrevi um post sobre os nomes que se deveriam dar aos filhos, com o intuito de dificultar a tarefa a quem os quisesse insultar. Relembrando, a teoria era a seguinte: se a criança tiver um nome deveras hediondo, será muito dificil de se sentir insultada por qualquer nome que lhe chamem. Lembro-em que a minha amiga Tania tinha o habito de apontar os nomes mais... improvaveis, não sei se ainda o faz, mas se fizer. Agora por dia passam-me pelas mãos documentos de uma das empresas para as quais trabalho e encontro algumas preciosidades como as que se podem ver:

Briolanja Rosalina
Domitilia
Maria Zuleta Bacalhau
Maria Artemia
Maria La Salete
Maria José Eufrásia
Geanina
Damasia Hilario
Marianela
Herondina
Sefora Rafaela
Lucilina
Vivina Conceição
Carmelinda Jesus
Lereno
Virlinda
Dinarte
Isolete Dores
Ernice Maria
Arquiminio Alexandre
Blandina
Rozendo Antonio
Austera Maria
Zuzete Maria
Decelina Maria Cavalaria
Alberico Jesus
Engracia Rosalina Grazina
Dionel Joaquim
Maria Circuncisão Ventosa
Ana Maria Lança Falcão Delgado
Laudelina
Edilia Noemi
Isaque Daniel
Rosalba
Juvelania
Orminda Piedade
Gualdina Eduarda
Aldemira
Libentina
Dilar Antonia
Vivelinda
Perpetua Custodia
Gracilia
Isalita Café
Valcira
Jesuina Florencia
Vidaul
Amarilis Guerreiro
Umbelina
Amarilde Maria
Gracilda Grilo
Maria Iveta
Ursilia Coelho
Laureta Casimiro
Silvandira
Suelandia Nicacio Sá Varela
Esmeraldo
Ortelinda Março
Benilde
Anailia
Liriolinda Eufrasia Tomé
Idalmira
Sizalda
Orico Ildefonso
Lucinalva
Lucibel
Donzilia
Vitalina Rafael
Silvestra Rosario
Miraldina
Juvenalia
Diana Loredana Sábado
Norvita
Crealmira
Luzita Maria
Ortilia
Iuri Euclides
Marionei
Glautina Encarnação
Zelinda Maria
Sebastiana
Leucadia Cabeceira
Maria Auzenda
Nina Elisabete

(estes nomes são verdadeiros, isso garanto eu)
Tanto por onde escolher... e as crianças vivem felizes para sempre.




sábado, julho 21, 2007

Piazza Grande


Para quem não sabe, há coisa de 3 anos fui passar uma semana no sul de Itália. Mais concretamente na provincia de Basilicata-Sur. Uma viagem que adorei (foi em trabalho, mas não teve praticamente nada de trabalhoso). Lembrei-me disto talvez por ser altura da Concentração das Motas, cá em Faro, e o meu desejo era estar bem longe daqui, como costumava fazer, noutros anos. Mas infelizmente estou cá, e tenho de aturar a barulheira das motas, a arrogancia de alguns motards que se acham donos do mundo só porque se realiza aqui uma concentração de motas, já para não falar do que se passa nas estradas, nesta altura.
Foi nessa viagem a Italia que fiquei a conhecer esta musica, cantada na altura por um coro (com algumas italianas bem engraçadas, tenho de admitir) no jantar de recepção no primeiro dia da nossa estadia por aquelas terras. Devo também acrescentar que soou lindamente, muito bem cantada.
A musica chama-se Piazza Grande, e a versão que se pode encontrar ali no botão do lado direito, onde diz play, é de Lucio Dalla e penso que foi gravada em 1971 (disto não tenho a certeza).
Aqui fica a letra, tambem. Apesar dos meus parcos conhecimentos da lingua italiana, fico com a ideia de se tratar de um sem-abrigo a falar sobre a sua vida e o que se passa em seu redor, na praça central da cidade que lhe serve de casa.


Santi che pagano il mio pranzo non ce n'è
sulle panchine in Piazza Grande,
ma quando ho fame di mercanti come me qui non ce n'è.

Dormo sull'erba e ho molti amici intorno a me,
gli innamorati in Piazza Grande,
dei loro guai dei loro amori tutto so, sbagliati e no.

A modo mio avrei bisogno di carezze anch'io.
A modo mio avrei bisogno di sognare anch'io.

Una famiglia vera e propria non ce l'ho
e la mia casa è Piazza Grande,
a chi mi crede prendo amore e amore do, quanto ne ho.

Con me di donne generose non ce n'è,
rubo l'amore in Piazza Grande,
e meno male che briganti come me qui non ce n'è.

A modo mio avrei bisogno di carezze anch'io.
Avrei bisogno di pregare Dio.
Ma la mia vita non la cambierò mai mai,
a modo mio quel che sono l'ho voluto io

Lenzuola bianche per coprirci non ne ho
sotto le stelle in Piazza Grande,
e se la vita non ha sogni io li ho e te li do.

E se non ci sarà più gente come me
voglio morire in Piazza Grande,
tra i gatti che non han padrone come me attorno a me

(Piazza Grande, Lucio Dalla)




quinta-feira, julho 12, 2007

Banco de jardim após banco de jardim


Como é bom depararmo-nos com os pequenos detalhes que nos deixam abismados, que nos deixam certos da nossa minuscula dimensão neste universo grandioso. Fazem-nos ver as coisas com outros olhos, com um novo alento por vezes, e nem conseguimos explicar a ninguem o que foi, qual foi o gatilho que despoletou tal clarividencia dentro de nós, o porquê de termos sido bafejados com essa felicidade e ao mesmo tempo com esse dom.
Subliminar sensação...

Hoje tive uma certeza, e nem sei explicar porquê. Não sei dizer o que foi que aconteceu em meu redor ou em mim que me fizesse pensar nisto, nem em ter esta sensação de destino que tem de se cumprir. Até porque não aconteceu nada que se possa chamar de fora do normal.

Mas hoje soube que vai chegar um dia em que vais fazer cair o ultimo dos meus medos, depois de todos os outros que entretanto fomos desfazendo. Sei que esse dia vai chegar e sei que serás tu aqui a meu lado (ou eu a teu lado) porque assim o quisémos e assim o fizémos. Nesse dia hei de me encontrar de frente para ti, colocarei o meu joelho direito no chão e segurarei a tua mão esquerda. Com a minha mão livre mostrar-te-ei uma pequena caixa azul-escuro aveludada. Ao abrires essa caixa soltar-se-á um brilho imenso como nunca antes visto e lá dentro encontrarás, não um anel, mas sim um universo para descobrirmos lado a lado.


É nesse momento que vou-te pedir que aceites não casar comigo, tu aceitarás e será o primeiro dia da nossa vida. Nessa altura, tudo o resto não será mais que simples acessório para a nossa felicidade.




domingo, julho 08, 2007

Sinapses adiadas


A luz forte do sol teimava em querer invadir o quarto, através de uma persiana que ficou esquecida, mas que se queria fechada, para não denunciar os monstros escondidos, manhã adentro.
Num velho caderno as palavras iam tomando forma e as frases faziam-se nascer, à medida que a caneta se fazia mover, nervosamente.
“Ainda bem que me fugiste”, escrevia ele.
“Ainda bem que não és tu, aqui deitada a meu lado. Acho que não suportaria ver a desilusão estampada na tua cara, ao acordares ao meu lado, na minha cama, com o aroma a sexo ainda a perdurar no ar e a sensação das minhas mãos na tua carne... e a tua desilusão devastar-me-ía por completo.”
Nisto a rapariga a seu lado acordou. Sentou-se na cama e olhou em frente, para o espelho, onde se viu. Horrorizada por estar ali, sem roupa, no quarto de um completo desconhecido que parecia tirar notas de uma noite de sexo inconsequente e sem significado algum.
Dois corpos nus de vergonha, no espaço exíguo de um pequeno quarto mal arrumado e mal tratado.
Ela vestiu-se à pressa, sem levantar a cabeça, enquanto ele continuava a escrever, como se não se passasse nada fora do normal. Sem cruzarem olhares ou uma palavra que fosse.
Ela saiu. Nunca mais se viram. Ele continuou a escrever...
“Ainda bem que não eras tu a sair por aquela porta, em silêncio... matar-me-ías mais um bocado... mais uma vez...”




quinta-feira, julho 05, 2007

How to be a frog who tries to be your prince

Fazer uma lista das coisas que tenho que mudar drasticamente para que me possas ver como uma pessoa... a lista torna-se demasiado extensa que me faz pensar em desistir de ser qualquer coisa que possa vir a ser. O calor torna-se abusivo, é dificil deixar de pensar em ti e fazes-me falta para arrefecer as ideias.
Talvez um dia venhas a perceber o porquê das coisas que faço, sempre a pensar no melhor para ti.. talvez um dia eu venha a perceber o que te move, o detalhe que te faz amar o que quer que seja, e possa um dia vir a fazer com que o sintas por mim.
Eu, que não passo de um sapo feio à espera do teu sinal - que até nem tem de ser um beijo, mas que seria melhor que fosse - para me tornar no teu principe e oferecer-te o reino da minha razão de existir.


A musica que aqui fica, hoje, é dos Bright Eyes. Devo dizer que as outras musicas que ouvi deles não me convenceram muito, mas foi esta que me fez ouvi-las, foi esta que me despertou os sentidos e me arrebatou do chão. Pode até não ser uma musica muita boa para quem me lê, mas enfim. Cada um reage de maneira diferente a coisas diferentes.
A musica chama-se The first day of my life, e a letra - que adorei ler e reler - está já aqui por baixo.

This is the first day of my life
Swear I was born right in the doorway
I went out in the rain
Suddenly everything changed
They're spreadin' blankets on the beach

Yours is the first face that I saw
Think I was blind before I met you
I don't know where I am
I don't know where I've been
But I know where I want to go
So I thought I'd let you know
That these things take forever
I especially am slow
But I realized that I need you
And I wondered if I could come home

I remember the time you drove all night
Just to meet me in the morning
And I thought it was strange
You said everything changed
You felt as if you'd just woke up
And you said,
This is the first day of my life,
Glad I didn't die before I met you
But now I don't care I could go anywhere with you
And I'd probably be happy.

So if you wanna be with me
With these things there's no telling
We'll just have to wait and see
But I'd rather be working for a paycheck
Than waiting to win the lottery

Besides maybe this time it's different
I mean I really think you'll like me...

(The first day of my life, Bright Eyes)




terça-feira, julho 03, 2007

O dia-a-dia da monotonia


“Dá-me um bocado de espaço”, disse-me.
Por momentos perguntei-me como o faria... e afinal era coisa tão simples, esticar os braços e com as mãos desnudadas agarrar uma porção de espaço sideral, colocá-lo gentilmente numa velha caixa de sapatos e adorná-la com uma fita de vermelho brilhante. Ver-te o sorriso de espanto e arrebatamento ao abrires uma caixa velha e no seu interior encontrar uma porção de espaço só nosso. Uma porção de espaço onde poderiamos pintar novas estrelas e esboçar novas constelações a nosso bel-prazer. Onde poderiamos quebrar os limites da imaginação rumo à galáxia dos infinitos.

“Dá-me algum tempo”, disse-me...
Logo comecei a inventar formas de congelar amontoados de segundos numa linda pequena garrafinha de perfume vazia, que podeira depois ser administrado cuidadosamente e com critério como se fosse um tempo só nosso, e não coubesse a mais ninguem viver esse tempo em que estariamos juntos.

“Não percebes... preciso de espaço para mim... e preciso de tempo para saber porque deixei de gostar de «nós»”, disse-me... no dia em que o tempo se esgotou e o universo se fez ruínas.




segunda-feira, julho 02, 2007

Blasfémias...?

Nesta imagem que se segue pode-se ver um exemplo de um pequeno pormenor da fisionomia humana. Desde me lembro que me dizem que se trata da “maçã de Adão”.

Ora, meus amigos, aqui torna-se perene o busílis da questão, que é nada mais nada menos que mais uma prova a deitar por terra toda uma história que pretendia confundir e enganar o pobre humano, uma vez que esta lenda, a meu ver, encontra-se completamente desvirtuada da realidade, tomando em linha de conta a mentalidade e a maneira de pensar e agir do ser humano... e passo a explicar.

Querem então fazer-me acreditar que os Homens (subentenda-se “seres humanos”) foram expulsos do Paraíso porque a Eva sucumbiu ao pecado original, ao jogar a boca a uma maçã de uma arvore, quando havia por ali outros tipos de maçãs a “dar sopa”... pois, pois. Está visto que naquele dia o Adão andava vestido com uma nudez de gola alta!

Numa coisa esta lenda estará certa: só pode mesmo ser considerado como “pecado original”, porque os outros todos já seriam bastante comuns...






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